CD Na tua mão

   

Na vossa mão

 

Não há muitos anos, o lançamento dum livro ou dum CD ainda era um acontecimento. Estreia dum principiante promissor ou sucesso garantido dum consagrado, estas novidades eram disponibilizadas ao público com base em critérios muito claros, um dos quais era a qualidade.

Hoje em dia toda a gente tem direito ao seu efémero momento de fama, antes da implacável voragem da máquina consumista a mastigar e cuspir para o caixote de lixo do esquecimento.

Subitamente, parece que metade da população é composta por escritores. Na música, o fenómeno não diverge muito: qualquer músico mediano ou cantor razoável, muitas vezes sem nunca ter passado pelo crivo dum público esclarecido ou especializado, sem nada que o diferencie do artista que esteve na moda no mês anterior, nem do que vai estar na berra no mês seguinte, tem direito a gravar o seu CD.

O fado, cujos pergaminhos recomendavam que se privilegiasse a experiência e a tarimba da vida, também não escapou à onda: qualquer neófito que dedilhe um instrumento, qualquer cantadeira a que por lapso chamaram fadista, passa num ápice a verdadeiro artista, e lá vai mais um CD às três pancadas.

Mas de vez em quando há um raio de sol que teima em brilhar.

Pela amizade que me merecem a Mónica Pinto e o meu irmão “adotivo” João Alvarez, mas principalmente pela enorme qualidade que lhes reconheço e pela sua incondicional devoção ao fado, é para mim um privilégio apresentar um trabalho como este: aqui tudo é genuíno, a saudade desliza pelas cordas, o sentimento impregna-se na voz…e logo à primeira audição sente-se na pele o amor com que foi gerado. Neste CD há respeito, há passado e futuro, é um disco com alma, um disco com vida dentro e que convida a muitas audições.

E agora, finalmente, está na vossa mão.     

 

Raúl Ribeiro